segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O rádio sumiu

Esta história eu ouvi há muito tempo atrás. Não sei se é verdadeira ou é ficção, porém isto não importa, o que realmente importa é que é uma história de muita graça e humor e também uma maneira de homenagear e lembrar com saudade e carinho do nosso querido Tio Zé.

A história é a seguinte:

O Tio Zé, como era chamado era uma mistura de ferreiro, carpinteiro e meio mecânico. Quanto guri eu ia visitá-lo junto com o meu pai e ficava observando o seu trabalho. O que eu achava mais interessante era quanto tinha que ligar a forja para aquecer o ferro a ser moldado. Aquilo despertava uma grande curiosidade e atenção. A forja tinha um fole que ao ser bombeado ventilava o carvão já aceso aumentando o fogo. Então o ferro era colocado no fogo até ficar em brasa e após era moldado na bigorna.

O tio Zé gostava muito de escutar rádio e comprou um belo rádio que deixava sempre ligado na oficina. Passava o dia trabalhando com o rádio sintonizado na rádio Riograndina. Naquele tempo não era qualquer pessoa que tinha rádio. Eles eram muito valorizados e custavam caro. O Tio Zé tinha o maior cuidado com o rádio: Não emprestava para ninguém; só ele mexia e sintonizava e estava sempre de olho nele com medo de que algum larápio o levasse.

A oficina era sempre um lugar movimentado, pois, além dos fregueses que lá iam encomendar algum serviço e ficavam lá conversando, trabalhavam o Tio Zé, os guris Eduardo, o Carlinhos e o Antonio, sem contar que também era ponto de encontro de amigos e vizinhos, pois o Tio Zé era bem relacionado e muito querido por todos.

Porém não era o dia inteiro assim. Muitas vezes, durante o dia, enquanto uns chegavam e outros saiam o Tio Zé ficava sozinho, quer dizer, sozinho não, ele e o seu inseparável rádio. Mas ele as vezes nem percebia pois não era muito chegado a participar das conversas, era super concentrado no seu trabalho e achava que as conversas atrapalhavam o andamento dos serviços. A única conversa que ele escutava atentamente era a voz do locutor da radio ou alguma música que estivesse tocando. Então enquanto uns entravam e outros saiam o Tio Zé permanecia atento ao seu trabalho e ao rádio.

Um belo dia, coincidentemente num momento que o Tio Zé estava sozinho na oficina, pois os guris havia ido fazer um lanchem em casa, que era ao lado, todos forma surpreendidos pelo grito do Tio Zé: - Venham todos! Venham cá! - O meu rádio desapareceu! - Quem pegou o meu rádio! Levaram o meu rádio que estava aqui ainda agora. Foi uma correria geral. Após a surpresa inicial, todos se olharam e como transmissão de pensamento pensaram: - Como o rádio poderia desaparecer se ele estava sempre “ligado” no rádio. - Como se ele não tirava o olho, quero dizer o ouvido do rádio. - Caso alguém levasse o rádio teria de desliga-lo, isto é, retira-lo da tomada e ai o Tio Zé iria perceber pois ele não deixava nem trocar de estação. Então, alguma coisa estranha, fora do normal. havia acontecido. A hipótese de algum guri pegar o rádio emprestado estava descartada. A de algum larápio leva-lo, a principio, também, pelo argumento de que o Tio Zé iria perceber o momento que o rádio parasse de falar. Mas o fato é que o rádio havia sumido, surripiado, roubado. Era caso para o Polícia.

Um dos guris telefonou para a Delegacia e logo uma viatura se deslocou até a oficina. O investigador chamou todos os possíveis envolvidos para efetuar um levantamento dos fatos. Depois de ouvir todos só faltava ouvir o Tio Zé. Então ele perguntou:
- Sr. José, me diga como aconteceu o desaparecimento. O senhor estava escutando o rádio?
- Sim eu estava escutando a Riogranina como sempre faço.
- Então me diga, até o momento que o senhor percebeu que o rádio havia sumido houve algum acontecimento diferente, algo que tivesse chamado a sua atenção?
- Não, não percebi nada de anormal.
- Mas seu Zé, se o senhor estava escutando o rádio, diga me qual a última palavra ou frase que o senhor lembra de ter escutado no rádio.
- Bom o que eu lembro é que o locutor falou:
- "SAIREMOS DO AR POR ALGUNS INSTANTES POR MOTIVO DE FALTA DE ENERGIA ELÉTRICA EM NOSSOS ESTÚDIOS".
- E ai o que o senhor fez?
- Ai eu fiquei aguardando o retorno da energia....

Foi neste momento que caiu a ficha do seu Zé e de todos. Um larápio entrando na oficina se fazendo de freguês e, percebendo a distração do Tio Zé, aproximando-se do rádio, baixando o volume e, o resto... bem, o resto é fácil imaginar o que aconteceu...

Um comentário:

II FAMAR - Colégio Marista São Franciso - Rio Grande -RS

Vídeo gravado por ocasião da realização do II Festival Artístico Marista - FAMAR - realizado em 09 de Outubro de 1992 no Ginásio do Colé...