sexta-feira, 12 de março de 2010

O Fantasma do Pontal

Foto: Candido Coutinho

Um vizinho ao chegar a casa tarde da noite avistou um Fantasma na nossa Chácara, perto da casa da minha avó. A notícia logo se espalhou e houve um alvoroço entre os poucos habitantes do Pontal. As pessoas passaram a ter mais cuidado ao sair á noite, procurando não andar sozinhos. Surgiram muitas estórias de aparições do Fantasma. Muitos afirmavam que ele aparecia nas noites de lua cheia. Outros, de que já o haviam visto numa sexta feira a meia noite. Um morador chegou a afirmar que havia dado falta de algumas ovelhas do seu rebanho, culpando o Fantasma. Enfim, de boca em boca, a cada estória e conversa um sentimento de apreensão e medo se espalhou entre os moradores daquele pacato e distante povoado. O medo rondava principalmente os vizinhos da Chácara. Digo vizinhos por que eram os moradores mais próximos da nossa Chácara e ficavam a mais ou menos uns dez quilômetros, ou, talvez menos. Era o Senhor Júlio e a Dona Dalva que moravam ao oeste, na direção da cidade, a Biloca, cuja casa ficava na direção do Mar Grosso. Tinha o Senhor Arlindo que era o maior proprietário da região, cuja Fazenda ficava perto do Patrono, em direção também ao Mar Grosso. Estes eram os vizinhos lindeiros e com os quais a nossa família tinha maior relacionamento. Havia também o Valdomiro, dono da “Venda” e de uma Parelha de Pesca. O Valdomiro era um homem muito querido por todos, pois era muito prestativo. Lembro das várias vezes em que ele nos deu uma carona para irmos á cidade. Sim por que no Pontal não havia nenhum meio de transporte organizado para se ir a qualquer lugar. O único transporte era pegar uma carona em um Caíco de pesca e o mais acessível era os do Valdomiro.


O Pontal da Barra


Situado entre a Barra do Rio Grande e o Cocuruto, o Pontal da Barra é uma localidade que pertence ao município de São José do Norte. Era um lugar de muita pobreza, não a pobreza que existe hoje nas grandes cidades, de fome, miséria e condições de vida e principalmente o abandono e a solidão. A pobreza que existia era outra coisa muito diferente. Nós tínhamos carinho, amor, alimento, aconchego e felicidade, o que nos deixou belas recordações. O que faltava, e que chamo de pobreza, era a carência de recursos básicos como água, luz, saúde, educação, transporte, dentre outros. É claro que isto fazia com que houvesse uma maior dificuldade para suprir estas necessidades o que era conseguido através da solidariedade, sacrifício e muito trabalho.


A Chácara


A Chácara possuía duas casas: uma onde morava o Pai Carlos e a Mãe Madrinha, como eram chamados o meu avo e a minha avó e outra onde nós morávamos: meus pais, eu e os meus irmãos e irmãs. Ambas as casas eram de madeira, sendo que a nossa tinha o telhado de zinco e a dos meus avós era com telhas de barro francesas. Digo isto, porque faz uma tremenda diferença, principalmente em dias (e noites) de temporal. A chuva e o vento no telhado de zinco davam a sensação de que tudo iria desabar e o barulho era ensurdecedor o que causava muita apreensão e medo. As atividades de produção eram bem divididas. As famílias produziam de forma separada e autônoma. A atividade econômica desenvolvida na Chácara era a produção de cebola. As demais atividades eram desenvolvidas para a produção de alimentos de para a subsistência das famílias, como a produção de verduras e hortaliças, criação de galinhas, produção de ovos, leite e frutas.

Energia elétrica


No pontal não havia energia elétrica, não tinha chuveiro elétrico e os banhos eram ou na cacimba que era um poço cavado com a finalidade de juntar água, ou então na bacia. O fogão era a lenha e a luz para iluminar a noite era o lampião a gás, ou a lamparina.


As roupas


Também não havia loja de roupas nem de tecidos. Então o jeito era trazer da cidade quando havia dinheiro para tal. As roupas duravam anos pois as melhores somente eram usadas aos domingos e olhe lá, somente quando se ia fazer alguma visita ou havia alguma festa. As roupas de dormir e também as chamadas roupas de baixo, cuecas, calcinhas, camisolas, ceroulas, eram todas confeccionadas em sacos de farinha vindos da padaria do Tio Candido, previamente lavados e colocados no coradouro para serem amaciados e branqueados.


O Fantasma


A Mãe-Madrinha costumava dormir com uma camisola branca comprida até o tornozelo, chamada de Camisolão, feita naturalmente, de saco de farinha. Uma noite escura a Mãe-Madrinha precisou ir buscar água para fazer um chá. A bomba que fornecida a água ficava distante da casa, no meio do campo. Isto por que a sua localização devia ser sempre onde a água era de melhor qualidade, isto é, longe de chiqueiros, potreiros, banheiros e outros possíveis locais de contaminação. Como a noite estava muito escura, a Mãe-Madrinha confeccionou uma grande tocha feita de jornal. Claro, imaginem que olhou de longe e viu um vulto todo de branco com uma grande tocha de fogo. Era um fantasma. Um vizinho viu a cena e pronto, logo a notícia correu por todo o Pontal. Havia um fantasma na chácara. E assim ocorreu a história do Fantasma do Pontal.


Candido Coutinho

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